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Showing posts from January, 2018

Poema meu: Aura de desastre

Foto minha: Puxador em Veneza Foto minha: Pés no Metropolitan Uma aura de desastre. Dois olhos duros, amarelos. Olhos de gato me estudando sóbrios, me especulando com a atenção indiferente de um bebê. esse eu conheço pelo cheiro: do vinho só bebe o nome. caráter é carne, caroço e casca: punhal de que não se vê nem o fio, nem o cabo. a gente só ama o que não tem. Quando encosta o dedo de leve, o amor abre as asas e vai embora. amor não morre, vai embora. Quem morre é você, fulminado, carcomido, cego, e pior: sem nem saber que. Só é corajoso quem descrê da boa sorte. O amor pega, bate a carteira dos dois e cai fora. fica a carne dos dois pendurada no açougue, tentando, sozinha, reacender o fósforo numa lata cheia d’água. Baixei as malas no chão e tranquei a porta do quarto brigando com as chaves. Quando me virei lá estava ela, nua de modéstia e descalça de vergonha: a fome.   Foto: Chão no

Obituário: Nicanor Parra

Nicanor Parra (1914-2018) Epitafio Nicanor Parra De estatura mediana, Con una voz ni delgada ni gruesa, Hijo mayor de profesor primario Y de una modista de trastienda; Flaco de nacimiento Aunque devoto de la buena mesa; De mejillas escuálidas Y de más bien abundantes orejas; Con un rostro cuadrado En que los ojos se abren apenas Y una nariz de boxeador mulato Baja a la boca de ídolo azteca -Todo esto bañado Por una luz entre irónica y pérfida- Ni muy listo ni tonto de remate Fui lo que fui: una mezcla De vinagre y aceite de comer ¡Un embutido de ángel y bestia! Mais Nicanor Parra aqui .

Recomendação para ontem: Fábio Durão

Quer ler algo relevante vindo da universidade, algo que seja inteligente e contundente sem ser hermético e bruto? Recomendo ler o que escreve Fábio Durão, professor da UNICAMP. Além de livros muito bons como Fragmentos Reunidos  e  TEORIA (LITERARIA) AMERICANA: UMA INTRODUÇAO CRITICA , vários dos s eus artigos estão disponíveis na página dele no saite Academia. Eis dois trechos de dois desses artigos: " Quem usa o conceito de Bildung como se ele estivesse disponível, como se ele pudesse ser usado agora, vai estar cometendo um erro sério, um erro que na área de Letras é muito fácil de ser cometido, e que se refere à cegueira em relação ao novo. [...]  Pois bem, qualquer abordagem da questão da formação, tem assim que reconhecer a natureza eminentemente antiquada dessa problemática. Daí a minha tese, de que o problema da Bildung não tem nenhuma atualidade hoje. Tudo aquilo que a formação indica (conhecimento, uma subjetividade forte para poder discernir e criticar, instituições ca