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Showing posts from October, 2017

Seis pérolas críticas

Foto Minha: Sem Título 1. A obsessão com o passado é geral e volta e meia citam Faulkner com " The past is never dead. It's not even past."  Só que quem "diz" isso é um personagem num romance, num diálogo meio furado em que a personagem Temple Drake nega seu passado repetidamente e o seu advogado sai-se com essa tirada, aliás bem faulkneriana. Digamos que o mesmo serve para praticamente todas as citações atribuídas a escritores como Clarice Lispector ou Guimarães Rosa - trata-se de palavras que eles botam na boca dos seus personagens, que geralmente não são ventríloquos que ficam dizendo exatamente o que pensavam os autores. Aliás o talento de um escritor de ficção geralmente não é dizer coisas interessantes, mas sim, com propriedade e beleza, botar na boca de papel dos seus personagens de papel palavras de tinta. 2. Santo Agostinho chamava a memória de estômago da alma. Ali se digere aquilo que os sentidos um dia absorveram. Algum panaca resolve que fica

Poesia minha: oração aos fenianos

oração aos fenianos Sed beatius arbitrantur quam ingemere agris, illaborare domibus, suas alienasque fortunas spe metuque versare. Securi adversus homines, securi adversus deos rem difficillimam assecuti aunt, ut illis ne voto quidem opus esset. Tácito cruzada a primeira metade da vida a luz da morte ilumina o inescapável não para: mente quem diz que dá conta do tempo e do acaso e da lei e do desejo dispenso tudo o que comprei e o que construí Arte Minha: Os Fenianos desconheço tudo o que conheci deixo aqui comigo só lágrimas ainda frescas e feridas abertas porque nelas me dissolvo nego a autoridade que publica o que escreve e a integridade de carne e de espírito [nada me separa de você, querido anti-leitor, que nunca me lê] abraço a contradição do instável imprevisível assustador insano porque reconheço o tombo: toda trangressão depende, confirma e completa a própria lei que transgride não milit

Doentes, olhando para fora, olhando para dentro

Vi ontem [passamos da meia-noite] muita gente no Brasil chamar, entre escárnio e pesar, a sociedade nos Estados Unidos de doente. Como essa doença é metafórica, tudo depende do que você quer chamar de doença. Se quisermos chamar um processo ideológico perverso de doença, tudo bem. Estamos todos doentes, então, no mundo inteiro. Sei que muita gente quer acreditar numa cultura doentia que aqui habita desde que os puritanos chegaram em Massachussets, como se a doença aqui fosse algo hereditário que se passasse intacto de geração a geração. Tudo bem, contando que você não queira acreditar numa doença atávica, um tipo de pecado original de Adão e Eva, herdado desde as priscas eras da Inglaterra Velha. Se você vai por aí, eu tomo outro rumo. O primeiro passo para entender uma doença é entender que os seus sintomas denunciam a sua presença, mas não podem ser confundidos com a doença propriamente. Então se o massacre espetaculoso com mais de quinhentas vítimas entre mortos e feridos em Las V